Em 29 de abril de 2017 Fonte: PCB Alagoas
A GRANDE GREVE GERAL DE 2017, pois é assim que esse acontecimento histórico será tratado pela memória coletiva, mobilizou trabalhadores de todo o Estado de Alagoas, que bloquearam estradas, paralisaram escolas, repartições públicas, centros comerciais e transporte coletivo. Mesmo diante dos limitados interesses das tradicionais direções conciliadoras burocráticas sindicais e do bombardeio da mídia imperialista antipopular, não foi possível conter a grande mobilização e esconder o mal estar da população sinalizando que algo grande está em curso. Além da capital, Maceió, de Arapiraca e de Delmiro, foi possível observar através das redes sociais que em dezenas de outra cidades ocorreram algum tipo de mobilização em torno da GRANDE GREVE GERAL.
A Greve Geral, convocada por todas as centrais sindicais atuantes no Brasil para o dia 28 de abril, foi um sucesso. Em todo o país o que se viu foi a adesão maciça de trabalhadores das mais diversas categorias profissionais às paralisações e aos atos convocados durante o dia inteiro. Além da adesão retumbante de servidores públicos dos diversos entes federativos, a Greve Geral contou com a presença expressiva e marcante de inúmeras categorias da iniciativa privada ou da economia mista, como rodoviários, trabalhadores dos Correios, do setor petrolífero, bancários, metalúrgicos, professores de escolas particulares, aeroviários, dentre inúmeras outras. Inserem-se aqui os aguerridos estudantes que desde o ano passado estão em luta em defesa da educação pública, com as memoráveis ocupações das escolas. Tratou-se, inequivocamente, de um dado importantíssimo da conjuntura política no país, selando a entrada organizada da classe trabalhadora na atual cena política nacional em defesa de seus direitos históricos.
A força da Grande Greve Geral se irradiou sobre Alagoas, que contou com expressivas manifestações no litoral, no agreste e no sertão do estado. Pode-se estimar que cerca 30 mil alagoanos foram às ruas de Maceió, Arapiraca e Delmiro Gouveia expressar sua insatisfação com o governo usurpador de Temer e suas políticas neoliberais. Desde as primeiras horas da madrugada do dia 28 os lutadores já estavam na luta organizando piquetes e trancamentos em diversos pontos da capital e do interior.
Em Delmiro Gouveia o sol raiou com um bloqueio organizado por trabalhadores rurais e de outras categorias à rodovia BR 423, que liga Delmiro a Paulo Afonso/BA e Petrolândia/PE. O bloqueio expressou a insatisfação do povo sertanejo com as políticas do governo ilegítimo, as quais pretende destruir em definitivo a reforma agrária em benefício do agronegócio e todos os outros serviços públicos essenciais para a população. Segundo Lucas Gama, professor da UFAL campus Delmiro e militante do PCB e da Corrente Sindical Unidade Classista, “o ato fortaleceu a unidade dos trabalhadores e camponeses contra a retirada de direitos. Não toleraremos a extinção da reforma agrária e a escalada da violência no campo, seja por jagunços, como ocorreu na chacina do MT, ou pelo próprio Poder Público, como tem ficado claro com o aumento das reintegrações de posse nos últimos meses em Alagoas”.
Nas ruas da segunda maior cidade do estado, Arapiraca, o dia 28 ocorreu de acordo com a importância regional da cidade no Agreste alagoano. Uma forte e caudalosa marcha tomou as ruas da cidade durante a manhã e agregou 3 mil indignados com as crises econômica e política do país e a saída burguesa que tem sido imposta pelo governo federal em aliança com as oligarquias do estado. Segundo o servidor municipal e estudante da UNEAL, Rodolfo Oliveira, militante do PCB e da UJC: “a Greve Geral em Arapiraca foi histórica. Desde as Jornadas de Junho de 2013 que não víamos tanta gente nas ruas. Os trabalhadores do campo e da cidade e os estudantes voltaram a marchar em defesa da educação pública, da aposentadoria e da manutenção das mínimas condições de civilidade na relação capital-trabalho e que estão materializadas na CLT. Em um país de capitalismo periférico como o nosso, de extração escravista e colonial, o fim da CLT, a banalização das terceirizações e a restrição ao máximo dos direitos previdenciários conduzirão a sociedade a níveis alarmantes de iniquidade, à barbárie total ”. Já Taciane, estudante da Uneal, militante do PCB do Coletivo Feminista e Classista Ana Montenegro, destacou que as mulheres deixaram seu recado nas mobilizações em todo o país, deixando claro que elas não são nem recatadas nem do lar, e que a beleza das mulheres reside em sua luta contra os ataques à classe trabalhadora. Segundo a militante, “as mulheres são as principais atingidas com estas contrarreformas, pois historicamente as mulheres recebem os piores salários e possuem várias jornadas de trabalho. A situação é pior ainda para as mulheres negras ou que moram nas periferias. É preciso juntar forças e engrossar as fileiras em todo o país em defesa de nossos direitos. As mulheres do Agreste em seus mais variados espaços de atuação têm resistido, e dito veementemente um NÃO a todo e qualquer ataque sofrido pelas mulheres e pelos trabalhadores em geral.” Certamente, foi um ato histórico que sela a necessária aliança entre estudantes, camponeses e trabalhadores urbanos em defesa de direitos já consagrados, além de apontar à necessidade de uma saída para a crise que seja dirigida e em benefício das classes subalternizadas da sociedade, o que passa inevitavelmente pelo Poder Popular.
Na capital do estado, Maceió, a sexta-feira mais se assemelhava a um feriado dada a
força da Grande Greve Geral. Menção inicial deve ser feita à corajosa paralisação dos rodoviários, que não saíram das garagens até o início da tarde, travando a circulação da força de trabalho na capital e os lucros exorbitantes das empresas, as mesmas que querem acabar com os cobradores de ônibus. Os servidores públicos das mais diversas instituições cruzaram os braços aliados aos trabalhadores da saúde, petroleiros e químicos, dos Correios, bancários, movimentos por moradia e terra e de muitas outras categorias, muitos dos quais aproveitaram a paralisação dos rodoviários para poderem expressar a sua insatisfação. Vale ressaltar a adesão maciça na paralisação dos trabalhadores das escolas e faculdades particulares da cidade assim como dos trabalhadores da educação pública federal, com destaque para atuação do SINTIETFAL, que mobilizou os trabalhadores do IFAL em todo o estado, e de vários professores da Ufal, inclusive da professora Valéria Correia, Reitora da UFAL. Esse conjunto de professores que vêm participando de todas as mobilizações contra esse governo ilegítimo e sua política de destruição da educação pública federal dão um brilhante exemplo de como se constrói e se defende uma EDUCAÇÃO POPULAR.
Ao fim da tarde, aproximadamente 20 mil trabalhadores e estudantes foram às ruas e marcharam da praça centenário até a praça dos Martírios. O clima de espontaneidade era marcante: a convocatória e a mobilização feita pelos sindicatos componentes do Fórum em Defesa da Previdência e dos Direitos Trabalhistas certamente foi fundamental, todavia, a magnitude da manifestação e da adesão à paralisação vai muito além da força efetiva do movimento sindical existente hoje na capital. O chamado da Greve Geral transbordou os setores mais orgânicos do movimento sindical e popular, demonstrando que há um clima espontâneo propício à luta, o que abre perspectivas positivas para a esquerda anticapitalista.
Segundo Fabiano Duarte, militante do PCB, da Unidade Classista e diretor do Sintietfal, “aqui em Alagoas e em todo Brasil essa GRANDE GREVE GERAL inicia um novo ciclo de acirramento da luta de classes com movimento de massas. Diferente de junho de 2013, o movimento sindical e popular organizado não foi figurante, mas sim o protagonista. Neste sentido, o dia 28 de Abril de 2017 deixa um recado claro às forças de esquerda e as classes populares: é necessário construir o Poder Popular ou limitar-se a ser varrida da vida pública nacional. Estas são as alternativas em que se vê colocada à esquerda alagoana e brasileira”.
O êxito da Grande Greve Geral de 28 de abril de 2017, 100 anos após a primeira greve geral do país, traz alguns apontamentos importantes:
1) a grave crise econômica que assola o país desde 2013 e seu desfecho político pró-capital materializado no golpe parlamentar-midiático-judiciário se reverberou em uma agenda política profundamente antipopular, com dimensões legislativas de natureza constituinte, uma verdadeira contrarrevolução preventiva e orientada a retomar as taxas de lucro na base da intensificação da superexploração do trabalho e da sangria dos fundos públicos para o rentismo parasitário;
2) assistiu-se num primeiro momento, no transcurso de 2016, a um torpor da maioria da população às medidas do governo ilegítimo e seus associados, paralelamente ao ativismo dos movimentos de direita capitaneando grande parte das classes médias entorpecida pelo moralismo etéreo, cortina de fumaça que oculta a relação entre a deterioração das suas condições de vida e os desígnios do capital. A contrarrevolução preventiva já não se encontra, entretanto, marchando sem resistência. Parte significativa das classes médias assalariadas já não está mais na órbita da direita, dada suas propostas neoliberais que agudizam as perdas materiais e simbólicas deste estrato. Ao mesmo tempo, o grosso da força de trabalho brasileira que tinha estado à margem das disputas de 2016 (direita versus esquerda da ordem) tem iniciado a retomada do ativismo, o que ficou marcante na importância dos dias 15 e 31 de março, e, principalmente, com a Grande Greve Geral;
3) com a classe trabalhadora dando demonstrações de que entrou em cena novamente, superando o apassivamento de mais de uma década, abre-se a perspectiva de uma mudança qualitativa na correlação de forças na luta de classe no Brasil. O início desta mudança já tem se expressado no Congresso Nacional, que por mais corrupto e fisiológico que seja não segue adiante com tanta facilidade nos ataques à previdência e aos direitos trabalhistas. A até então consistente base de sustentação parlamentar de Temer tem dado sucessivos sinais de “insubordinação”, reflexo da pressão popular nos estados. O trabalho de base e as ações unitárias devem continuar a fim de fazer crescer este sentimento de indignação e de ativismo demonstrado ontem, tendo o movimento sindical um papel ímpar de operador político coletivo neste primeiro momento;
4) em termos práticos no estado, deve ser fortalecido o Fórum em Defesa da Previdência e dos Direitos Trabalhistas, que deve se constituir como o pólo a unificar as ações de
agitação e propaganda em defesa dos direitos históricos. Isso passa pela intensificação das ações para além das bases de cada sindicato, impulsionando-se iniciativas nos bairros populares da capital e do interior, nas escolas e nas categorias ainda retardatárias. Papel importante deve ser cumprido pela comunicação, que deve ser dinâmica e múltipla, capaz de abarcar a diversidade de perfis da nossa classe;
5) por fim, mas não menos importante, a irrupção dos trabalhadores a fim de resguardar seus direitos consagrados não pode se restringir ao caráter defensivo. O ímpeto para defender é a chave para o contra-ataque. Assim, a esquerda anticapitalista deve compor a ampla unidade de ação contra o governo e suas medidas sem perder a perspectiva estratégica capaz de conduzir a classe trabalhadora para uma ofensiva contra o capitalismo dependente. O objetivo de um país soberano e dirigido pelos trabalhadores deve nortear nossas ações, o que deve se materializar na constituição de ações unificadas entre as organizações da esquerda anticapitalista tendo em vista a constituição de uma frente política, a qual não se faz por decreto, mas através de diálogo fraterno e fecundo. As doces ilusões da conciliação de classes, novamente proposta por amplos segmentos daqueles que puxam o “Fora Temer”, devem ser pedagogicamente dissipadas pela esquerda anticapitalista e antiimperialista.
PCB-Alagoas
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